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12 de janeiro de 2011

A Vida que temos

A Vida que temos

Nós nos acostumamos com a vida que temos. Mas não deveríamos.

Viver não é só acordar todas as manhãs e dormir todos os dias.Deve existir algo melhor que isso.

Não é só sair com os amigos para tomar uma cerveja, bater um papo, jogar uma pelada, e tricotar a noite inteira. Falar de mulher, de homem, de negócio e de bobagens.


Não é só visitar a namorada todos os dias pontualmente, cumprir rigorosamente a agenda, maquiar-se para sair e pegar o mesmo ônibus no mesmo ponto.

Viver não é ficar conectado a Internet, ter várias redes sociais e ser super conhecido no mundo virtual.Deve existir uma forma de ficarmos conectados e não perdermos os laços afetivos e culturais.

Não deveríamos nos acostumamos com vida que temos. Mas nos acostumamos.

Quase sempre, estamos lá, acostumados com alguma coisa: um perfume, um restaurante, uma roupa, um amigo, um amor, um vida. Acomodados com uma certa zona de conformo, um salário que da para pagar as dividas, um alguém que serve para chamar de amor, uma casa que nomeamos de doce lar, um veiculo “carro básico”, um amigo escoteiro, um clube para refugio do tédio.

Nos acostumamos com os amigos virtuais, com as conversas sem cheiro e sem cor no teclado do computador, com o mundo artificial e superficial da contemporaneidade. Nos acostumamos com vida que temos. Mas não deveríamos ... Talvez nos acostumamos com tudo isso, para não sofrermos.

Podemos fazer a diferença, enfrentar desafios e os dilemas da existência. Podemos romper barreiras juntos ou individualmente. Nós podemos mudar.

Este texto, escrevi inspirado no texto de Marina Colasanti que segue abaixo:



Eu sei, mas não devia

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.


Marina Colasanti nasceu em Asmara, Etiópia, morou 11 anos na Itália e desde então vive no Brasil. Publicou vários livros de contos, crônicas, poemas e histórias infantis. Recebeu o Prêmio Jabuti com Eu sei mas não devia e também por Rota de Colisão. Dentre outros escreveu E por falar em Amor; Contos de Amor Rasgados; Aqui entre nós, Intimidade Pública, Eu Sozinha, Zooilógico, A Morada do Ser, A nova Mulher, Mulher daqui pra Frente e O leopardo é um animal delicado. Escreve, também, para revistas femininas e constantemente é convidada para cursos e palestras em todo o Brasil. É casada com o escritor e poeta Affonso Romano de Sant'Anna.

O texto acima foi extraído do livro "Eu sei, mas não devia", Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1996, pág. 09.

4 de janeiro de 2011

Concurso para Agente de Leitura



Clik na imagem e obtenha outras informações ....

Achei muito inovador e diferente o desafio da secretaria Estadual de Cultura do Estado da Bahia realizar este projeto. Ler para mim sempre foi algo notável e muito enriquecedor.Abre as portas da imaginação, nos faz crescer intelectualmente.

A Secretaria de Cultura da Bahia, através da Fundação Pedro Calmon, em parceria com o Programa Mais Cultura, do Ministério da Cultura - MinC, lançou no último dia 10 de dezembro, o edital para formação de agentes de leitura, que atuarão em Salvador e mais 47 municípios baianos. O edital selecionará 572 jovens, com idade entre 18 e 29 anos, com ensino médio completo, para atuarem na democratização do acesso ao livro, por meio de visitas domiciliares, empréstimos de livros, rodas de leitura, contação de histórias, criação de clubes de leitura e saraus literários abertos para as comunidades. As localidades onde os agentes atuarão são aquelas identificadas segundo critérios de baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), definido pela Unesco/ONU, e de baixo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), definido pelo Ministério da Educação.

Cada agente de leitura receberá um kit contendo 100 livros, uma mochila, uniforme, uma bicicleta e uma bolsa complementação de renda no valor mensal de R$ 350,00 (trezentos e cinqüenta reais) durante o período de um ano, além da capacitação de 196 horas/aulas. Com dedicação de 25 horas semanais, atendendo a 25 famílias beneficiadas pelo Programa Bolsa Família, desenvolvendo atividades de mediadores literários, os agentes de leitura estarão integrados às bibliotecas públicas municipais, escolares, bem como aos Pontos de Leitura e Pontos de Cultura.

As bolsas serão prioritariamente destinadas às pessoas que estejam enquadradas abaixo da linha de pobreza. O processo seletivo consistirá de análise documental de caráter eliminatório, prova escrita e oral de caráter eliminatório e classificatório, análise curricular e entrevista de caráter classificatório.

As inscrições serão gratuitas e encerram-se em 31 de janeiro de 2011. Informações completas no link: http://www.fpc.ba.gov.br/node/1031




Fonte:

http://www.fpc.ba.gov.br/node/1031

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